Mulheres ocupam cada vez mais profissões consideradas “masculinas”

As mulheres já são 43,7% da população economicamente ativa do Brasil, mas ainda ocupam majoritariamente empregos ligados a áreas tradicionais, como Educação e Enfermagem, segmentos fortemente identificados com características culturalmente tidas como “femininas”, de mães e cuidadoras.

Entretanto, nos últimos 30 anos, as mulheres conquistaram espaço em diversas profissões até então tidas como masculinas. A afirmação consta na pesquisa desenvolvida pela professora de Economia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Regina Madalozzo. Ela analisou o percentual de mulheres em 21 profissões entre 1978 e 2007, de acordo com a “Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios” (PNAD), elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Alguns exemplos chamam a atenção. Em 1978, advogadas e médicas eram apenas 18% entre o total de profissionais da área. Em 2008, passaram a ser, respectivamente, 45% e 44%. Há 30 anos, ser economista era uma atividade para poucas mulheres, 19%, mas agora elas já são 37%. E as dentistas já são maioria, 57%, mais que o dobro de 1978, quando eram 23%. Sem contar as corretoras de seguro, 10% há três décadas e 40% agora, e gerentes e administradoras, que eram 17% e agora são 36%.

Interessante notar que, mesmo em alguns casos tendo o percentual de participação dobrado, as mulheres continuam subrrepresentadas em algumas profissões. Podemos citar os exemplos de policiais e detetives, meros 2% em 1978 e 13% em 2007; engenheiras, antes 5% e agora 11%; motoristas, que passou de 0,2% para 1,4%; e mecânicas de automóveis, antes 0,3% e agora 0,5%.

Outra informação curiosa é que as mulheres estão ocupando profissões tradicionalmente masculinas, mas o contrário não aconteceu com a mesma intensidade. Profissões como enfermagem, atendentes de creches e operadoras de máquina de costura ainda empregam 90% ou mais de força de trabalho feminina, e os homens continuam ampla minoria. Entre os fatores que podem explicar este fato está o machismo. Muitos homens não aceitam ou temem não ser bem aceitos em profissões geralmente consideradas femininas, de cuidados. Outra explicação pode ser questão de status social e econômico, já que ocupações identificadas como femininas costumam ser desvalorizadas e pagar menores salários, porque culturalmente são tidas como extensão natural dos afazeres domésticos e cuidados familiares, ou seja, exigiriam menos qualificação.

As diferenças salariais também continuam, segundo o estudo da professora Regina Madalozzo, embora tenham caído à metade nos últimos 30 anos. Em 1978, elas ganhavam em média 33% dos salários masculinos e, em 2007, este percentual era de 16% na ocupação de um mesmo cargo. Os menores salários têm relação com a discriminação às trabalhadoras, e algumas empresas encaram direitos como licença-maternidade e licença-amamentação como remuneração, levando, consequentemente, ao pagamento de salários menores às trabalhadoras.

O que tem feito a diferença é o maior nível de escolaridade feminina em relação aos nível dos homens no mesmo cargo, porque, normalmente, o simples fato de ser mulher já garante um salário menor que o colega de trabalho na mesma função. A escolaridade maior também tem relação direta com a inserção em áreas consideradas masculinas, como a Engenharia, o que as deixam mais preparadas para um processo de seleção em profissões menos “tradicionais”.

Interessante que, mesmo quando alcançam tais nichos masculinos, outros obstáculos são vivenciados, como a chegada aos mais altos cargos. O caso das engenheiras é bem representativo, como analisa a socióloga da Fundação Carlos Chagas, Maria Rosa Lombardi. A profissão em si já limita a inserção feminina por ter suas origens militares e a disciplinas, como matemática e física, mais associadas ao masculino.

Em um ambiente masculino de trabalho, também se intensificam problemas vivenciados no mercado de trabalho como um todo, como a dedicação exclusiva à carreira e horários flexíveis, difíceis para mulheres com tantos afazeres domésticos geralmente pouco compartilhados com os homens. Outro obstáculo é a aceitação dos colegas homens em serem gerenciados por mulheres, sendo a ascensão profissional masculina quase natural ao contrário da feminina. Assim, além de todas as dificuldades encontradas, elas ainda têm que encontrar um jeito próprio de gerenciar mais feminino, valorizando a feminilidade como a diferença, ao invés de negá-la por estar em um ambiente tão masculino.

Segundo o estudo, a ascensão profissional feminina na Engenharia costuma acontecer através da indicação de um homem excepcional que confiou nelas em um determinado momento da carreira, indicando-a para um posto de comando. E elas afirmam ser recorrente a necessidade de estarem sempre provando competências profissionais em sua ascensão profissional, o que não acontece com os homens.

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